Com foco impressionante, carioca nascida na favela Cidade de Deus enfileira rivais e leva público brasileiro ao delírio com conquista sensacional para o esporte do país
Por David Abramvezt, Helena Rebello, Renan Morais e Richard SouzaRio de Janeiro
Rafaela Silva, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (Foto: REUTERS/Kai Pfaffenbach)
É Silva, é da favela, é uma das milhões de brasileiras que tiveram
uma infância pobre. A diferença é que o esporte transformou a vida de
Rafaela, e cerca de quinze anos depois de ser colocada pelo seu pai em
um projeto social que ensinava judô para evitar que o crime organizado a
seduzisse, a menina carioca de 24 anos é a mais nova campeã olímpica do
esporte mundial. Nascida e criada na famosa favela Cidade de Deus, Rafa
enfileirou cinco adversárias e levantou uma contagiante torcida nesta
segunda-feira, na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico da Barra, para
realizar o maior sonho de qualquer atleta no planeta, não importa da
onde ele veio. Na grande final do peso-leve (até 57kg), a atleta de
1,69m se agigantou e venceu por wazari a judoca da Mongólia Sumiya
Dorjsuren, líder do ranking mundial. É o primeiro ouro do Time Brasil na
Olimpíada do Rio, e a segunda medalha brasileira, após a prata no tiro
esportivo de Felipe Wu, na pistola de 10m. A láurea de Rafa é a 20ª do
judô nacional em Jogos Olímpicos, aumentando a vantagem da arte marcial
de origem japonesa na disputa com a vela (17).
- Acho que eu
só tenho agradecer todo mundo que me deu forças. Treinei bastante para
representar todo esse ginásio. Se eu pudesse servir de exemplo para
crianças da comunidade, é o que eu tenho para passar para o judô.
Treinei tudo que podia nesse ciclo, saia treinando chorando, queria a
medalha. Trabalhei o suficiente para conquistar. Para uma criança que
cresceu numa comunidade que não tem muito objetivo na vida, como eu, que
sou da Cidade de Deus, e começou a fazer judô por brincadeira, agora
sou campeã mundial e olímpica - vibrou Rafaela, em entrevista ao
repórter Tino Marcos, da TV Globo.
Desde que entrou pela primeira vez no tatame nesta segunda, Rafaela
decidiu que ela ia muito longe na Olimpíada do Rio. Dona de um enorme
talento para o judô, mas nada fã dos exaustivos treinos, ela foi campeã
mundial em 2013, porém passou os três últimos anos sem grandes
resultados e passou a ralar muito mais nos treinamentos. Estava tudo
guardado para a competição na casa dela. Com muita raça, sangue nos
olhos e uma técnica apurada, ela contou o apoio de uma ensandecida
torcida que vibrou sem parar, pressionando as gringas. A Silva mais
famosa do momento derrotou, pela manhã, em sequência, a alemã Myriam Roper (primeira fase), a sul-coreana Jandi Kim (oitavas) e húngara Hedvig Karakas.
A vaga na decisão veio com uma emocionante vitória no golden score, a
prorrogação do judô, sobre a forte romena Corina Caprioriu, prata em
Londres 2012 e vice no Mundial de 2015.
Fonte: http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/judo/noticia/2016/08/
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