Manifestação em São Paulo
A
frente “Povo Sem Medo” reuniu milhares de manifestantes no Largo da
Batata, zona oeste de São Paulo, na tarde deste domingo (31). Liderados
por Guilherme Boulos, do MTST (Movimento dos Sem Teto), eles pedem a
volta de Dilma Rousseff ao poder e a realização de um plebiscito popular
por novas eleições.
O
instrumento de consulta à população não está previsto na Constituição
e, por isso, precisaria de aprovação de uma emenda constitucional no
Congresso. O problema é que o grupo é crítico dos políticos que compõem a
Câmara dos Deputados e o Senado, e os acusa de golpe contra Dilma
Rousseff e o PT.
Neste
domingo, Boulos disse à Folha reconhecer a dificuldade de aprovação do
plebiscito, mas afirma que insistirá com essa bandeira. “Não conto com
esse Congresso, mas o papel dos movimentos sociais é apontar saída para a
crise”, disse. “Se depender desse Congresso, em dois anos o país volta à
monarquia”, ironizou.
Segundo
a organização, mais de 50 mil pessoas passaram pela manifestação. A
Polícia Militar ainda não informou sua estimativa de quantidade de
presentes, mas anunciou que o fará ainda neste domingo (31).
A candidata a prefeita de São Paulo, Luiza Erundina (PSOL), discursou no carro de som contra o interino Michel Temer.
“Tem
alguém que nada fez pelo país e está traindo a vontade popular”, disse
ela, referindo-se a Temer. “Vamos continuar nas ruas para que o golpe
não se consuma. Temos a maioria, que é o povo trabalhador.”
No
local, muitos manifestantes carregavam bandeiras com o logo da
Petrobras e dizeres “o pré-sal é nosso” e “não estamos à venda”.
Militantes discursaram contra a venda de ativos da empresa, como um
campo de pré-sal.
A
vice-prefeita Nádia Campeão e o ex-senador Eduardo Suplicy também
participam do protesto. Na chegada, Suplicy foi tratado como
celebridade, fazendo selfies com manifestantes. Muitos perguntavam sobre
sua detenção há poucos dias, por resistir contra uma desocupação.
O
senador Lindberg Farias (PT-RJ) discursou contra os meios de
comunicação, acusando-os de apoiar um “golpe”. “Nós não jogamos a
toalha, nós acreditamos que podemos derrotar o impeachment no Senado”,
disse Lindberg. “Se Eduardo Cunha for cassado e preso, esse Michel Temer
não fica um dia no poder”.
A
frente liderada por Boulos é composta por 35 movimentos sociais. Por
volta das 15h, a intenção era caminhar até o bairro de Alto de
Pinheiros, bairro onde o presidente interino Michel Temer tem casa em
São Paulo.
Além
da defesa de Dilma e da saída de Michel Temer, Boulos diz que os
movimentos são contrários a uma agenda “conservadora” defendida pelo
interino. “Não sou eu que estou dizendo, eles mesmos dizem que querem a
reforma trabalhista e previdenciária e o teto de gastos, que significará
reduzir gastos para saúde e educação”, disse Boulos.
Segundo ele, entre todos os movimentos sociais, é unanimidade a oposição à reforma da previdência.
O
ex-sindicalista Vicente Mendonça de Lima, 79, disse que acompanhava as
últimas três horas da manifestação. Com a ajuda de muletas, ele afirmou
que seguiria até o fim da caminhada. Lima entende que dificilmente Dilma
Rousseff voltará ao poder e gostaria que houvesse novas eleições.
“Temer traiu Dilma, foi candidato com ela. Deveria ter ficado até o fim e
tentar a eleição em 2018.”
A
corretora de imóveis Patricia Saraiva, 39, moradora de Moema, bairro de
classe alta em São Paulo, participava da manifestação com a
companheira, Luana Rocha, a filha, Chiara, e uma amiga da filha.
Patricia disse que Dilma deveria voltar e concluir seu mandato: “Temer
já está fazendo um governo ruim, fez mudanças no Minha Casa Minha Vida e
na Previdência”. Para ela, a continuidade do peemedebista significará
retrocesso nos direitos sociais e civis, “uma guinada à direita”.
Segurando
um cartaz que dizia “Não à reforma da previdência”, moradores do
acampamento Rosa Luxemburgo, Santo André, não sabiam do que se tratava a
queixa.
“Eu
acho que fala de conquistas do povo, que foram duras de alcançar, e que
não pode alguém chegar lá e dizer que não tem condições de honrar”,
disse Evelin Munhoz, 37, professora. Ela afirmou que participava da
manifestação sem um interesse político. “Nossa pauta é social, por
moradia. Nem a favor de um governo, nem contra outro”.
A
professora Patrícia Abranches, 33, também moradora do Rosa Luxemburgo,
disse que Temer é “contra os pobres”. “Ele não trabalha pelos pobres”,
disse ela. “Só consegui entrar na faculdade no governo do Lula e graças
ao meu esforço eu tenho pós-graduação hoje”.
Patrícia
acha que Dilma deve voltar e ter a “oportunidade de corrigir seus
erros”, que, segundo ela, foram ter sido “conivente com algumas
atitudes, corrupção”. “Se ela conseguir colocar as coisas no eixo, deve
ficar. Se não, eu sou a favor de novas eleições”.
As avenidas ao redor do Largo da Batata foram interditadas nos dois sentidos.
OLIMPÍADAS
O
líder do MTST, Guilherme Boulos, disse que prepara uma manifestação na
abertura dos Jogos Olímpicos, na próxima sexta (5). “Vamos entrar em um
novo ciclo de luta. Na próxima sexta nós estaremos no Rio, para colocar
água no chope deles e denunciar ao mundo todo o que está acontecendo”,
disse.
Durante
a manifestação deste domingo (31), Boulos chamou o ministro Alexandre
de Moraes (Justiça) de terrorista. “Ele está dizendo que quem se
manifestar durante a Olimpíada será tratado como terrorista. Terrorista é
você. Não vai nos intimidar.”
Segundo
ele, o ato no Largo da Batata mostra diferença em relação ao público da
Paulista. “Ali é a cara dos Jardins, de Higienópolis. Aqui está quem
luta por direitos, lá quem quer privilégios.”
Boulos
disse ainda que o governo do interino Michel Temer quer impor
“retrocesso de mais de 30 anos” ao país. “Querem fazer o povo trabalhar
80 horas por semana, que se aposentem no caixão”, disse Boulos.
Os
manifestantes que estavam concentrados no Largo da Batata começaram a
caminhar por volta de 16h30 em direção à Praça Panamericana, em Alto de
Pinheiros. Segundo Boulos, o objetivo do grupo é chegar ao escritório
que Michel Temer usou antes de assumir a presidência interina —segundo
ele, a “oficina do golpe”.
“Vamos marchar em seu covil [de Temer], o Alto de Pinheiros, bairro que está acostumado a receber o povo pela porta dos fundos.”
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